quinta-feira, 2 de julho de 2009

Senhora

Senhora, considerado um dos maiores romances urbanos de José de Alencar, trata de uma história de amor que mistura desejos de ambição e de vingança. Aurélia Camargo esbanja sua incomparável beleza pelos bailes da alta sociedade fluminense do século XIX. Possui apenas um desejo: casar-se com Fernando Seixas, homem a quem sempre amou, e submetê-lo a humilhações sucessivas durante a vida de casados. No decorrer do enredo, seus sentimentos se confundem; porém, seu objetivo é claro: humilhar aquele que um dia a humilhou. Fazê-lo pagar pela dor e rejeição que sofreu quando foi trocada por Adelaide Amaral.


Apesar da personalidade firme e decidida que possui, Aurélia aparece, em diversas situações, como uma moça frágil, romântica e sonhadora. Na verdade, pode-se dizer que toda a sua “dureza” se desenvolveu a partir dos “golpes” que levou da vida. E não foram poucos! Foi criada apenas por sua mãe, D. Emília, em meio à rejeição de sua família materna e paterna e aos escassos contos de réis que deixara seu pai, Pedro Camargo. É assediada pelo próprio tio, Sr. Lemos. Apaixona-se perdidamente por um homem que a troca por 30 contos de réis e uma posição em Pernambuco. Perde o irmão, Emílio, e a mãe sem ter a mínima condição de arcar com os gastos do cortejo. No entanto, herda uma riqueza imensurável do avô paterno, Sr. Lourenço Camargo, que, antes de morrer, retratara-se com a neta a fim de fazer valer a memória do filho, no qual nunca acreditara que tinha constituído uma família, mas que documentos comprovaram o que dizia. E é através dessa fortuna que brotam o orgulho e a soberba em Aurélia e a sede de vingança daquele que não fez questão de se importar com seus sentimentos.

Constitui-se, então, um casamento por conveniência, uma vida de aparência ante uma sociedade hipócrita e corrompida. A relação entre os dois torna-se praticamente envolta de ironias e sarcasmos. Contudo, a lembrança de tempos que poderiam ter sido felizes vem à tona na mente de ambos, mas nem por isso dão o braço a torcer...


Realmente é uma história para ser lida do começo ao fim, como todas que foram escritas pelo grande romancista, na qual aparece explícita a ideia de que o ter vale bem mais que o ser. Tudo se resume a aparências e negócios, acordos mercantis e felicidade postiça. Amor, paixão, luxo, ganância, soberba, orgulho e sentimento de rejeição e de vingança enriquecem essa primorosa obra de José de Alencar.


por Edvander Pires

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