domingo, 17 de maio de 2009

Dica de Livro: O Quinze

“O Quinze”, primeiro romance da grande escritora cearense Rachel de Queiroz, retrata a cruel realidade que é conviver com o pesadelo da seca. A figura do retirante aparece aqui de forma tão verdadeira como foi vista apenas em poucas obras. A história é composta, basicamente, por três núcleos: Dona Inácia e Conceição; Vicente e sua família; Chico Bento e família. Dona Inácia era uma velha mulher de muita fé, proprietária da fazenda do Logradouro, e que tinha bastante afeição por sua terra. Todo ano, durante as férias, recebia a visita da neta Conceição, retrato da “mulher moderna”, aquela que não pensa em casar tão cedo, mas sim em se dedicar ao trabalho e a ser independente. É ela quem convence a avó, em meio ao advento da grande seca de 1915, a viajar para Fortaleza, o que acontece com muito pesar em ambas.

Na Capital, a jovem se dedica à escola onde leciona e a prestar socorro aos refugiados da seca no Campo de Concentração. Além de avó, sua companhia são os livros, o que a distancia de um possível relacionamento com o primo Vicente, embora o cerne dessa distância tenha sido um grande mal-entendido. Vicente é um vaqueiro rude, porém, homem de bom coração e trabalhador. Vive nas Aroeiras com seu pai, o Major, sua mãe, Dona Idalina, e suas irmãs, Lourdinha e Alice. O amor que sente por sua terra não permitiu que seguisse com a família para Quixadá. Durante o período da seca, fazia apenas viagens rápidas, as que se fizessem necessárias, pelo menos foi assim a que fez à Fortaleza quando visitou Conceição. No entanto, decepcionou-se profundamente diante da indiferença com que a moça o tratara, tudo fruto de insinuações levianas feitas por uma retirante de que o jovem já estaria se envolvendo com outra mulher. Sem entender nada, permanece, então, em Vicente a consciência de que realmente é a “instrução” que os separa.

O desespero da seca mostrado em “O Quinze” destaca-se na família de Chico Bento. Vaqueiro trabalhador que perde as esperanças de viver em Aroeiras e acaba por migrar com a família pelas terras do sertão, devido ao fato de haver corrupção no que se refere à venda de passagens de trem para o norte. Ficam expostos a todo tipo de mazelas, fome, sede, doenças e morte. Na estrada, a cunhada, Mocinha, decide ficar na casa de uma mulher que trabalhava com vendas na estação, porém, torna-se “mulher da vida” diante do desespero da fome e do abandono; um dos filhos, Josias, não suportando a fome, morre envenenado por uma mandioca crua que comera, o outro, Pedro, foge, assustado, atordoado e perdido da família em um comboio de retirantes na longa estrada do sertão. Porém, o mais novo, Manuel, acaba por ficar com a madrinha, Conceição, na Capital, onde, com muito pesar e depois de tanto sofrer, Chico Bento e Cordulina chegam já no limite de suas forças para se instalarem no Campo de Concentração. Em seguida, ambos e os dois filhos restantes embarcam de navio para São Paulo sob o apoio e a ajuda de Conceição...

Enfim, “O Quinze” possui um enredo que merece ser lido com um profundo envolvimento do leitor, pois é nítida a mistura que há entre realidade e ficção. Obteve, então, o merecido reconhecimento por parte de toda a sociedade como uma obra ímpar de nossa eterna cearense Rachel de Queiroz.

por Edvander Pires



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