sábado, 8 de outubro de 2011

Ausência

Ausência- Vinícius de Moraes

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
no entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
que ficou sobre a minha carne
como nódoa no passado
eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, 
porque eu fui o grande íntimo da noite. 
Porque eu encostei minha face na face da noitee ouvi tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçam os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até em mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausentem a tua voz serenizada.

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